A Escola Rural Taylor-Egídio (ERTE) e a proposta de educação integral: a prova dos nove Sonilda Sampaio Santos Pereira e Vilmaci dos Santos Dias Jaguaquara – BA: Editora Curviana, 2019.
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Primeiro capítulo – Pra início de conversa
Sonilda Sampaio Santos Pereira e Vilmaci dos Santos Dias
A Educação do/no Campo tem sido objeto de nosso interesse, há duas décadas. O campo do nordeste brasileiro, especialmente do sudoeste da Bahia, atraiu nossa atenção quando assumimos, em 1998, o ideal de integrar um grupo que sonhava com uma escola genuinamente camponesa, uma escola cujos ditames emergissem das realidades, das lutas, das singularidades, dos saberes, da vida sendo das pessoas do campo.
Desde então, a literatura sobre o campo, sobre as pessoas e suas possibilidades de sobrevivência no campo, sobre a educação formal e informal do campo, ocupou nossas agendas e serviram-nos de base para produções científicas. Com isso, afirmamos a relevância do tema e o motivo de inserirmos este trabalho na linha de pesquisa 2 – Educação do campo: currículo, métodos, formação e práxis pedagógica, do Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em Educação do/no Campo, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), coordenado pela Profa. Dra. Tânia Regina Braga Torreão Sá.
Não obstante nosso empenho pela Educação do/no Campo, como um todo, neste trabalho tentamos fazer um recorte e focar, com maior precisão, a Escola Estadual Rural Taylor-Egídio (ERTE), sua história, como lugar, campo e objeto de estudo com a intenção de evocar a memória e preservar a história, o que se encontra Na segunda parte.
E, para buscar dar conta do nosso intento de rememorar a história da ERTE que é nossa própria história, uma vez que, nela e com ela, fomos nos constituindo como educadoras, fizemos opções metodológicas. Portanto, o que e como fizemos a pesquisa, encontra-se na terceira parte.
Na quarta parte, nos debruçamos nos estudos dos dois pilares que mais singularizam a história da ERTE: a educação integral, propagada tanto nos documentos oficiais, quanto nos discursos informais; e a prática da Pedagogia de Alternância. Ressaltamos que, nessas duas décadas, a proposta de educação integral tem sido a marca, por excelência, da política pedagógica da ERTE.
Daí, justificarmos o interesse que temos, nesta altura da história, em investigarmos a efetividade da referida educação. A quinta parte se ocupa em apresentar a prova dos nove[1], isto é, a análise dos dados da pesquisa realizada com os colaboradores-parceiros, que são os egressos da experiência de imersão na escolaridade formal, perspectivadora da educação integral, por meio da Pedagogia de Alternância.
Assim, ao colocarmos na mesa nossos anseios, confianças e desconfianças sobre a efetividade da educação integral, anunciada na ERTE, em seus dezessete primeiros anos, oportunamente, avaliamos também o esforço que estamos a empreender desde 1998, quando tudo era sonho, utopia, e o projeto começava a ser escrito, as paredes começavam a erguer-se e nós começávamos a, tateando, lançar propostas administrativo-pedagógicas e, em 2001, estávamos iniciando a escola camponesa residencial, freiriana.
Deste modo, à moda antiga, resolvemos fazer a prova dos nove, e, sem medo, buscar o “teste de validade” das nossas afirmações e práticas. Desta forma, justificamos a importância da pesquisa: em sendo a ERTE, no senso comum, um relevante trabalho social e educacional na região onde se insere, urge que, com um mínimo rigor acadêmico, também seja reconhecida, ou mais reconhecida, na academia e, quiçá, junto aos poderes públicos governamentais.
Como não poderia ser diferente, a ERTE é uma escola camponesa, no nordeste do Brasil, com proposições partindo das realidades dos camponeses, buscando a perspectiva da integralidade do ser, aberta ao diálogo, sem medo de tentativas. Seu lastro é freiriano. Por isso, intencionalmente e para fortalecimento do bem da educação do nordeste e do Brasil, cada parte é motivada por uma epígrafe de Paulo Freire, que a resume. Com razão, ao prefaciar o livro comemorativo dos quinze anos da ERTE, Magda Soares o fez em seu nome e em nome dele:
A minha vida tem sido dedicada à luta por uma escola pública que promova equidade, justiça social, igualdade de direitos para os grupos oprimidos da sociedade, mas diante da ERTE, dos 15 anos da ERTE, me sinto pequena, porque ainda longe de ver realizada a utopia que persigo, mas me sinto também feliz e gratificada, porque a utopia se fez realidade em Jaguaquara, na Escola Estadual Rural Taylor-Egídio, a ERTE: em algum lugar deste país um grupo vem transformando o mundo, um grupo vem comprovando que é possível transformá-lo, que sonhos podem realizar-se. Eu me sinto feliz por saber da utopia feita realidade; Paulo Freire se sentiria feliz se ainda entre nós estivesse e soubesse de sua utopia feita realidade. Assim, tenho a audácia de dizer que é não só em meu nome, mas também no dele, nosso mestre, que escrevi este prefácio (SOARES, In: PEREIRA; DIAS, 2017).
[1] Quando as calculadoras ainda não eram populares, os contabilistas utilizavam um truque para verificar se suas contas estavam corretas: a conhecida prova dos noves ou do “noves fora”. Trata-se de um teste de validade para o cálculo manual de somas, subtrações, divisões e multiplicações de números inteiros (https://www.somatematica.com.br/faq/nove.php – consulta feita em 16/11/2018).